quinta-feira, 8 de março de 2012

Anton Bruckner

Lá pelo ano de 1995 a editora espanhola Del Prado lançava nas bancas brasileiras uma coleção de encartes de música erudita. Eram 78 volumes, cada volume acompanhava um CD de áudio e consistia em algumas páginas do que, ao final, formariam 3 livros encadernados. As capas duras vinham também, em alguns volumes específicos. Na época, eu estava na faculdade e a pouca grana que eu ganhava na bolsa até que dava para encarar esta coleção. Então fui comprando os fascículos, que chegavam mais ou menos um por semana. Com o tempo, o tiozinho da banca até já deixava reservado meu exemplar. (Mesmo assim, perdi dois volumes quase no fim da coleção, dois de Mozart... que tristeza).

Coloquei como objetivo pessoal que eu leria o texto de cada fascículo e ouviria o respectivo CD com a devida atenção. Na época, eu já gostava de música erudita e até conhecia algumas obras e compositores, mas eu queria mesmo era ampliar meus horizontes.

Foi assim que ouvi pela primeira vez a música de Anton Bruckner.


A única obra dele que veio naquela coleção foi a Sinfonia n.4, a "Romântica". Lembro-me como se fosse ontem: comecei a ouvir e não consegui chegar ao final do CD. Na época não gostei, não suportei, mas sabia direito o motivo. Simplesmente meu ouvido não estava preparado para ouvir tal coisa. Hoje lembro disto como uma clara demonstração de que, na vida, a gente vai amadurecendo e aprendendo a gostar de obras que antes não seriam digeridas. Tudo ao seu tempo. Não preciso nem dizer que aquele CD é hoje um dos meus preferidos da coleção.

Ao longo de sua vida, Bruckner compôs missas, motetos, peças para órgão (instrumento no qual era exímio improvisador), mas o ponto alto deste compositor austríaco foram, sem dúvida, suas sinfonias. Nove ao total, assim como Beethoven, só que a nona de Bruckner ficou inacabada, com sua morte em Viena, 1896). E assim como Beethoven, Bruckner vivia um tanto sozinho e não tinha lá muitos amigos. Em sua época, depois de ser massacrado por muitas críticas, o reconhecimento e o sucesso vieram mesmo com a Sinfonia n.4 e a partir dela, uma sucessão de obras-primas. Era um compositor introspectivo, perfeccionista, auto-didata e sempre imerso em uma ansiedade e insegurança no que dizia respeito ao seu reconhecimento como artista. Tanto que, em 1867, acabou tendo um esgotamento nervoso e foi parar num sanatório.

No video abaixo, você pode conferir uma entrevista com Simon Rattle (atual regente titular da Filarmônica de Berlim) sobre a Sinfonia n.4 de Bruckner, com trechos da sinfonia.


Não encontrei nenhuma execução realmente decente desta sinfonia no YouTube. Até tem algumas razoáveis, mas já ouvi melhores. No geral, as sinfonias de Bruckner não são muito fáceis de se encontrar, mas vale cada segundo de procura. Isto é uma das coisas interessantes na música erudita: a busca incansável pela melhor interpretação, por aquela execução que chega a ser maior do que a própria obra em si, que não se limita à leitura mecânica da partitura.

Recomendo sinceramente: ouça as sinfonias de Bruckner de uma forma decente, com qualidade de som e com dedicação. Não dá para apreciar Bruckner no formato MP3 de 128kbps com um fone vabagabundo no meio do trânsito. Para ter uma remotíssima noção do que eu estou falando, dá uma conferida no video abaixo como é o final da Sinfonia n.8 (o maestro é Lorin Maazel, diretor da Filarmônica de Nova Iorque):


Para saber mais, temos o interessante texto:
Anton Bruckner - o Bach do Romantismo

E também tem o livro de Lauro Machado Coelho, O menestrel de Deus - Vida e obra de Anton Bruckner. (ISBN-13: 9788560187188, da Editora Algol), uma ótima leitura.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Jean Michel Jarre

Se você já tem uma certa idade, assim como eu, certamente já ouviu falar de Jean Michel Jarre.


Teve uma época, lá por 198x, a televisão mostrava trechos dos shows do Jean Michel Jarre, se me recordo bem era no Fantástico, da Globo. Ele era anunciado como o "mago dos teclados", e na minha cabeça de criança era mais ou menos assim que eu o via. Aquele uso compulsivo de lasers (ele tinha até uma harpa laser!) e aquele teclado circular cujas teclas se iluminavam ao ser pressionadas, bastaram para me deixar fascinado. É muito provável que foi ali que eu comecei a gostar de teclados e sintetizadores, mesmo sem nem saber o que era um "sintetizador" na época.

Jean Michel Jarre nasceu em agosto de 1948, francês, filho de Maurice Jarre (isso mesmo, o Maurice Jarre especialista em trilhas sonoras de filmes). Ele é, acima de tudo, um experimentador. Aliás, esta mesma qualidade de "experimentação" foi o que o levou a brigar com a gravadora Disques Dreyfus, depois de 25 anos juntos. Atualmente, a sua gravadora é a EMI. Reza a lenda que era comum Jarre entrar noites a dentro no estúdio em busca de sons diferenciados, inclusive usando objetos e técnicas nada ortodoxas para obter sons alguns sons incomuns e inovadores, dando a algumas de suas músicas um ar bastante experimental.

A obra-prima de Jarre é, na minha opinião, o álbum Rendez-Vous, de 1986.


Eu quase gastei o LP de tanto ouvir. Ainda está lá em casa, só que devidamente digitalizado, é claro.

Este álbum teve também uma importância histórica, pois "(Jarre) trabalhou num concerto com a NASA: o astronauta Ronald McNair iria tocar o solo de saxofone da música Rendez-Vous VI enquanto estivesse em órbita no ônibus espacial Challenger, enquanto os seus batimentos cardíacos seriam usados como amostras de som na mesma música. Esta seria a primeira música gravada do espaço, a ser incluída no álbum Rendez-Vous. Após o desastre com a espaçonave Challenger em 28 de janeiro de 1986, a música foi gravada com outro saxofonista, recebeu o nome de Last Rendez-Vous - Ron's Piece e tanto a música, como o álbum, foram dedicados aos astronautas mortos no acidente com a Challenger." (fonte: Wikipedia)

Outros álbuns de Jarre que merecem destaque, na minha opinião, são o Oxygene, de 1976 (seu primeiro LP totalmente instrumental e sintetizado), Equinoxe (1978), o fantástico Chronologie (1993) e o Waiting for Cousteau, de 1990, um álbum em homenagem ao famoso oceanógrafo e documentarista Jacques-Yves Cousteau. Destaques também para o The Concerts in China, de 1982, e o A.E.R.O., de 2004, um fôlego extra de Jarre dentro das tendências contemporâneas da música eletrônica pós 2000.


No video abaixo temos um trecho de um dos shows de J.M. Jarre. Tudo bem, talvez hoje em dia um show assim até seria considerado brega (em particular pela quantidade de fotos de artifício, um tanto exagerada), mas é interessante ver os conceitos que estavam ali presentes. O uso dos prédios e arquitetura local como painéis de projeção, a mistura de coral de vozes e instrumentos acústicos com sintetizadores e lasers, e toda aquela parafernália eletrônica (destaque para as partituras sendo dinamicamente exibidas em monitores CRT de fósforo verde!!), foram, no mínimo, referência para todos os shows de grande porte que vieram depois.


O som e imagem destes videos não está muito legal, mas provavelmente foram digitalizados de algum VHS. Dá para dar um desconto, né?
E no vídeo abaixo, provavelmente a música mais conhecida de Jean Michel Jarre, também do álbum Rendez-Vous. E dá-lhe mais fogos de artifício! (Confesso que até hoje tenho minhas dúvidas se aquele teclado luminoso funcionava mesmo ou se era apenas um apelo visual... porque, se era real mesmo, haja mão para tocar um simples acorde de quinta naquelas teclas largas!)


É bem verdade que atualmente, Jean Michel Jarre, em seus 63 anos de idade, já não produz nada novo. Sua produção atual é, basicamente, reformular seus antigos sucessos e fazer algumas turnês para mostrar esta "nova roupagem" de seus hits. Para mim, isto já não tem muito valor. Várias de suas obras são sensacionais do jeito que foram lançadas. Eu sei que a tecnologia dos sintetizadores melhorou muito nos últimos 30 anos, mas nem por isso você precisa ficar "atualizando" a sonoridade de antigas obras. Acredito que o auge de criatividade de Jean Michel Jarre está lá entre 1976 e 1993, mas já basta para lhe garantir um lugar de destaque na música contemporânea.

Para finalizar, lembro que eu ficava lendo na capa do LP quais eram os intrumentos que J.M.Jarre usava. Ficava imaginando como deveria ser legal ter pelo menos um daqueles teclados. Era um texto do tipo:

Equinoxe (1978)
Jean Michel Jarre played the following instruments:

2600 ARP Synthesizer, AKS Synthesizer, VCs 3 Synthesizer, YAMAHA Polyphonic Synthesizer, OBERHEIM Polyphonic Synthesizer, RMI Harmonic Synthesizer, RMI Keyboard Synthesizer, RMI Keyboard Computer, ELKA 707, KORG Polyphonic Ensemble, Eminent, Mollotron, ARP Sequenzer, OBERHEIM Digital Sequenzer, Matrisequencer 250, Rhythmicomputer, Vocoder E.M.S.


Atualmente, a Internet nos proporciona conhecer um pouco melhor alguns destes instrumentos. Se você ficou curioso, só para ilustrar, dá uma olhada numa demonstração do 2600 ARP Synthesizer.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=ppnNs4KE8Z0

Que tal?