domingo, 20 de novembro de 2011

Samuel Barber

Na minha opinião, dentro do pouco que conheço de música erudita, acho que a peça musical mais triste que já ouvi é esta:

Talvez a palavra "triste" não seja a mais apropriada, mas, de qualquer forma, é uma música daquelas que abrem aquele baú secreto da nossa alma, trazendo à luz aquelas coisas que geralmente conseguimos abafar muito bem no nosso dia-a-dia. Mas esta é só minha opinião e não será unanimidade, obviamente. Não existem unanimidades em se tratando de ser humano.

Este peça musical, normalmente conhecida simplesmente como "Adagio for strings", trata-se do segundo movimento do Quarteto de Cordas op.11, do americano Samuel Barber.


Samuel Barber teve formação como compositor e cantor na renomada Curtis Institute of Music. Numa época em que a música era dominada por moderninstas tais como Schoenberg e Stravinsky, o romantismo singelo de Barber mexeu com as plateias. Seu talento para linhas melódicas fluentes e fáceis de memorizar mascarou os aspectos mais contemporâneos de sua composição, sobretudo o acurado manejo da dissonância e a orquestração inventiva.

O Quarteto para Cordas n.1 op.11 foi composto em 1936. Dois anos depois, o próprio Barber reescreveu-o para orquestra plena de cordas, aproveitando para acrescentar recursos como peso e sonoridade. Talvez em função do tom profundamente melancólico e contemplativo, este adágio encontrou resposta junto ao público, sendo executado em vários funerais, como os de Kennedy, Roosevelt e Einstein.

Na versão abaixo, temos o famoso segundo movimento em uma versão mais original, para quarteto de cordas mesmo. É lindo, quase que se pode ver as quatro pautas dançando em nossa mente.


E também temos abaixo a versão orquestrada, que é o video do início deste post. Aliás, no YouTube tem incontáveis vídeos com esta música de fundo, é complicado escolher. Acabei optando por este, pela sensibilidade na escolha das imagens e edição, mas devem ter outros ainda melhores.

No cinema esta música combinou lindamente, de uma forma emocionalmente perturbadora, com o memorável filme Platoon (de Oliver Stone, 1986). Trata-se da imortal cena da morte do Sgt. Elias.


E aqui tem uma edição bem bacana com cenas do filme e usando esta mesma trilha sonora.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Reconhecimento de músicas

Estes dias, durante o jantar, estávamos assistindo ao programa "Qual é o seu talento", do SBT. Um dos candidatos que apresentou-se era um mágico, Bianconi, bem competente até por sinal. Mas o que me chamou a atenção mesmo foi uma das músicas que ele usou de fundo em seu número. Era daquelas músicas que estava na minha mente, eu já ouvira antes com certeza, mas onde? Quando? Não tinha a mínima idéia do nome da música, nem compositor, nem nada.

Fico pensando: como eu resolveria isto há tempos atrás? Ligar para uma emissora de televisão não é como ligar para a rádio local de sua cidade... Bom, mas hoje em dia com a Internet, tudo ficou mais fácil.

O primeiro passo foi encontrar o vídeo do programa da televisão. Acabei achando o vídeo no YouTube, é lógico. A saber, a apresentação do mágico foi esta:


Minha primeira tentativa foi pedir ajuda para Michele, minha esposa, que tem um celular Motorola com aquele aplicativo MotoID, que identifica músicas. Mas o aplicativo não funcionou direito, por algum motivo desconhecido.
Então, fui a procura de alguma coisa a ser feita no computador mesmo. Acabei achando alguns sites que fazem on-line a mesma coisa que o MotoID faz. Alguns realmente são uma porcaria (como o AudioTag.info), mas o achado do dia foi o Midomi.

Como eu não estava em casa, tudo o que eu tinha a minha disposição era um fone da Leadership, daqueles com microfone, dos mais "chinelão". Mas foi suficiente. Coloquei para tocar o vídeo no YouTube e no trecho em que tocava a música, bastou encostar o microfone em um dos fones de ouvido, para fazer o Midomi "ouvir" via microfone o que estava sendo tocado nos fones! Sério, sem mentira, simples assim! Em cerca de 10 segundos de audição, ele me dava a resposta:


Fui ao YouTube novamente para dar uma geral e confirmar esta resposta. Dito e feito. Esta música, composta por Michael Gore, é tema do filme Laços de Ternura (Terms of Endearment), de 1983, filme este que nunca assisti, mas parece ser bacana. Já tá na minha lista de filmes que eu preciso ver.

Bom, então agora, aliviado com mais uma descoberta musical (quem já passou por isso sabe a sensação boa que dá), deixo com vocês o tema do filme, em duas versões: uma para piano solo e a outra orquestrada.



Bonita música, não?
Thanks Michael Gore and thanks to Midomi team!

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Paul Mauriat

Quem curte música orquestral e já tem uma certa idade, certamente já ouviu falar de Paul Mauriat:

Nascido em Marselha, em 1925, Paul Mauriat era filho de uma família de músicos e dedicou sua vida inteira à música. Na verdade, sua especialidade era mesmo Easy Listening, também conhecido como "lounge music", que é aquele tipo de música mais comercial, de fácil audição, e que por isto mesmo faz enorme sucesso junto ao grande público.
Longe de ser depreciativo, a gigantesca discografia de Paul Mauriat atravessou décadas e adaptou-se muito bem as mudanças que foram ocorrendo no mercado musical. Bons tempos em que orquestras, ainda que executando obras mais acessíveis para a grande maioria das pessoas, eram ouvidas nos toca-discos em milhares de lares pelo mundo.
Talvez uma das execuções orquestrais mais famosas de Paul foi gravada pela primeira vez em 1968: é a música "L'Amour est Bleu" (Love is blue), de André Popp:

Outra peça que tornou-se famosa pelos arranjos de Paul Mauriat foi a música "El Bimbo", de Claude Morgan e Laurent Rossi (quem viu o primeiro filme "Loucademia de polícia" vai lembrar da cômica cena do bar "Ostra azul"):


Enfim, tenho um especial apreço por Paul Mauriat, que morreu em 2006 e cuja vida até hoje me supreende pela extensão de seus projetos, experimentos, influências e acessibilidade. Lá na minha infância, não comecei a gostar de música orquestral ouvindo Mahler, Bruckner ou Beethoven, mas sim ouvindo Paul Mauriat e sua orquestra (entre outros, é claro). A música, assim como qualquer arte, vai crescendo conosco, acompanhando nosso amadurecimento e nossa capacidade de compreensão.
Teve um vinil que quase "gastei" de tanto ouvir, quando era criança: (uma outra hora faço um post sobre Herb Ohta)

Não vou me alongar muito neste post, até porque alguém já fez todo um excelente trabalho: me refiro ao blog do André Emílio, de Porto Alegre. Lá tem uma enorme quantidade de informações sobre Paul Mauriat, tudo bem organizado. São fotos, discografia (com as capas dos LPs, achei o máximo!), links para músicas e muita informação.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Hang Drum

Eu nunca havia ouvido falar deste instrumento, o Hang (ou também chamado de Hang Drum) mas o negócio é simplesmente sensacional. Confesso que cheguei a pensar: "Ah tá... isto aí é um sintetizador pô!", coisas do tipo. Mas depois fui pesquisando e fiquei tão impressionado que deixo até registrado aqui neste post.
Vejam uma demonstração abaixo, executada por Dante Bucci:


Este instrumento foi desenvolvido no ano de 2000, na cidade de Berna, Suíça, pelo casal Felix Rohner and Sabina Schärer, da empresa PANArt. Basicamente é feito de duas peças metálicas, a parte superior (chamada de "Ding", onde temos aqueles círculos tonais) e a parte de baixo (chamada de "Gu" que caracteriza basicamente um ressonador de Helmholtz, lembrando o mesmo efeito do instrumento indiano Ghatam ou o instrumento africano Udu). Cada círculo está sintonizado em uma nota. O Hang Drum é tocado com as mãos e, como você viu no vídeo acima, ele mistura o ritmo da percussão com a suavidade da ressonância, sendo possível criar muitos efeitos.

Para comprar um brinquedo destes, não é nada fácil. A começar pelo preço, que normalmente gira em torno dos US$1500, dependendo do modelo. Além disto, não é muito fácil encontrar informações sobre como comprar este instrumento. Encontrei uma lista de sites:
http://www.balisteelpan.com
http://www.caisa-music.com
http://www.pantheonsteel.com
http://www.spacedrum.fr

Mesmo assim, acho que é mesmo um instrumento que será cada vez mais usado. Som incrível, viciante ouvir e deve ser mais viciante ainda tocar.

Fiquem então com a apresentação de Liron Mann:


Ou ainda com esta gravação em estúdio de um Hang Drum acompanhado por uma flauta transversal:


Legal, não? Eu quero um Hang Drum!!! :)

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Extensão vocal

Estes dias eu estava olhando na Internet tópicos sobre a extensão vocal da voz humana. Não sei ao certo o que me levou a pesquisar sobre isto. Talvez tudo tenha começado com o quanto eu fiquei impressionado com o show A New Day, da Celine Dion, no qual ela dá uma mostra do poder de sua voz. Inclusive tem um vídeo bem legal que mostra trechos de várias músicas interpretadas pela Celine Dion, destacando a nota mais grave ou a mais aguda alcançada por ela, em várias de suas músicas:

 Celine Dion's Live Vocal Range

Tem muito material sobre a Celine Dion na Internet, mas várias fontes parecem concordar que a tessitura da voz dela tem cerca de 3.4 oitavas, indo de algo em torno do Si2 (B2) até o SolSustenido5 (G#5).
Aqui vale a pena diferenciar tessitura vocal de extensão vocal. Tessitura vocal é o conjunto de notas que o cantor ou cantora consegue articular sem esforço e com um timbre com qualidade suficiente para que possa ser usado musicalmente. Já a extensão vocal seria o conjunto de notas que o cantor ou cantora até consegue emitir, mas a custo de um esforço anormal e/ou comprometimento da qualidade.

Então acabei me deparando com duas curiosidades, que gostaria de compartilhar com vocês. A primeira: no mundo da música clássica, em qual obra está a nota cantada mais aguda? Tente adivinhar. Bom, se você chutou aquela famosa ária da rainha da noite (Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen), da ópera Flauta Mágica (Die Zauberflöte), de Mozart, saiba que QUASE acertou.

 Der Hölle Rache kocht in meinem Herzen

A assustadora e enfurecida "Rainha da Noite" acima é a soprano alemã Diana Damrau. Assista, é nota 10!
Na peça acima, a nota mais alta é um Fá6 (F6). Já é para poucas pregas vocais no mundo, mas este F6 ainda não é a nota campeã.
A nota mais alta exigida de um gogó de soprano é um Sol6 (G6), também em uma peça de Mozart, uma ária de concerto chamada Popoli di Tessaglia. O vídeo que escolhi não está com áudio/imagem perfeitos, mas é pela interprete: Natalie Dessay. Que voz! Se estiver meio sem tempo, assista o vídeo a partir dos 6min45seg. Respeitável, não?


Outra curiosidade: qual é o recorde mundial em termos de extensão vocal? E quem é que detem este recorde?
Atualmente, no Guinness, estão registrados recordes para a voz masculina e a voz feminina. O recorde da voz masculina pertence a Tim Storms, cujo forte mesmo são as notas graves. Ele consegue uma extensão de 10 oitavas, indo do G/G#-5 até o G/G#5 (0.7973 Hz - 807.3 Hz). Sinceramente, abaixo dos 20 hertz a gente nem sequer consegue ouvir! E obviamente ele só consegue registrar isto com um microfone praticamente enfiado dentro do nariz, porque não há potência sonora alguma. Não consegui encontrar nenhum vídeo decente. Aliás, não consigo nem sequer entender como ele atingiria notas abaixo de 8 Hz, por exemplo. Mas enfim...

A nota mais aguda emitida por um homem, registrada no Guinness, pertence a Adam Lopez Costa. É um Dó#8. Parece que o cara engoliu um apito. No vídeo abaixo, temos uma demonstração (não desta nota, mas quase):


Para a voz feminina temos uma brasileira! Vejam só, prata da casa. Georgia Brown chegou a estar no livro Guinness por dois recordes: maior extensão e nota mais aguda. Mas, no quesito nota mais aguda, parece que teve problemas em provar isto e então ela acabou perdendo o posto para o Adam Lopez. Mas conta a lenda que ela alcança de um Sol2 até um inaudível (literalmente!) Sol10. Esta frequência é realmente inaudível para o ouvido humano e só pode ser captada com instrumentos eletrônicos. Tão esquisito quanto o ultra-grave do Tim...

É impressionante, sem dúvida, mas tenho lá minhas dúvidas da real utilidade de um recurso destes para a música em geral. Talvez para música experimental, ou algo assim. Se você estiver com problemas de mosquitos na sua casa, aumente o volume das caixas acústicas do seu micro e veja o vídeo abaixo:


Brincadeiras à parte, a voz dela é bacana e fica aceitável quando ela canta em uma extensão, digamos, mais  normal. O mesmo vale para os outros recordistas.

Depois de ter visto todas estas habilidades vocais, aquela famosa diva alienígena azul do filme O Quinto Elemento ficou sendo algo até mais factível (você lembra da cena?). A dona daquela voz absurdamente encantadora é a cantora Inva Mula Tchako, que você pode ver na foto abaixo.
(A atriz que topou vestir aquela fantasia esquisitíssima de Diva Plavalaguna foi a atriz francesa Maiwenn Le Besco).

(À esquerda: cena do filme "O quinto elemento"; à direita, a cantora Inva Mula Tchako)

Embora alguns digam que não, o fato é que teve algum processamento de áudio, é claro. Mas talvez menos do que a gente imagina. Segue abaixo um link para um vídeo com a música (que na verdade são duas músicas, primeira parte: Ato3, cena 2 Il dolce suono, de Lucia di Lammermoor, de Gaetano Donizetti, segunda parte: the Diva Dance, composto por Eric Serra.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Tema de Vilma

Estes dias, navegando pelo YouTube a procura de algumas músicas para flauta, acabei sem querer me deparando com esta peça aqui:


Tocada em flauta pan, no título estava escrito "Tema de Vilma".
"Espere um pouco, Tema de Vilma? Mas esta não é a Dolannes Melody?" Sim, de fato é. Mas olha só que interessante:

A música original foi composta por Paul de Senneville e Olivier Toussaint, em 1975. Na foto abaixo, o de óculos é o Paul.


Paul de Senneville começou a vida como jornalista, mas em 1962 começou a envolver-se com música e não parou mais. Em 1975, compôs Dolannes Melody, que rapidamente tornou-se um enorme sucesso, executado pelo trompetista Jean-Claude Borelly. Aliás, nem todo mundo sabe, mas Dolannes Melody foi inicialmente escrita para tompete. Dá uma conferida abaixo:


Mas, quem é Vilma? Esta música ficou conhecida como "Tema de Vilma" graças a novela Pecado Capital, de 1975, onde esta música era o tema da personagem Vilma. No vídeo abaixo temos uma cena da novela (a Internet nos proporciona raridades mesmo):



No vídeo acima temos uma cena de um dos primeiros capitulos da novela Pecado Capital (1975/76), de Janete Clair, dirigida por Daniel Filho. Primeira novela colorida do horario das 20 horas.

Vilma (Debora Duarte), filha de Salviano Lisboa (Lima Duarte), visita pela primeira vez o psiquiatra Dr. Percival (Milton Gonçalves). Vilma era uma jovem com problemas emocionais, que vai se apaixonar por Nelio (Denis Carvalho).

Com a censura de Roque Santeiro (Dias Gomes) na noite da estreia, Janete Clair teve que escrever as pressas uma novela para substitui-la. Escreveu um dos seus grandes sucessos da televisao, Pecado Capital, em tempo recorde, e incluindo quase todos os atores ja escalados em Roque Santeiro. Debora Duarte vivia a Lulu, casada com Ze das Medalhas, e Milton Gonçalves, vivia o padre Honorio. 


Milton Gonçalves pediu a Janete Clair que lhe criasse um personagem profissional, que fosse diferente dos papeis normalmente vivido por atores negros, que interpretavam em geral gente probre e sem educaçao, ou escravos e domesticos. O seu personagem Dr. Percival foi um marco na historia da televisao, por quebrar esteriotipos. E Debora Duarte pode mostrar todo o talento que tem com a sua Vilma, um dos personagens mais marcantes de sua carreira.


Para finalizar, é importante mencionar outro detalhe. Se você pesquisar por esta música no YouTube, você provavelmente vai encontrar muitas ocorrências relacionadas ao pianista Richard Clayderman (sim, aquele loiro do piano branco). Isto tem um motivo: a carreira de Clayderman e os compositores Paul de Senneville e Olivier Toussaint sempre foram coisas muito próximas. Tanto é que a música "Ballade pour Adeline" (composta pelo papai Senneville para a filha Adeline) teve sua gravação especificamente solicitada ao Clayderman, que na época teve sua carreira de pianista catapultada às alturas com isto.

Esta balada água-com-açúcar já está mais do que massacrada, mas se bateu a saudade curiosidade, eis o vídeo logo abaixo:


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Santa Maria de Iquique

Este post eu dedico ao meu padrinho Ademar, que durante minha faculdade me apresentou a seguinte obra (em disco de vinil) sobre a qual falarei agora.

No cancioneiro do grupo chileno Quillapayún há um disco, de 1970, chamado Cantata Popular de Santa Maria de Iquique. Esta cantata conta a história do massacre da Escola Domingo Santa Maria, em 1907, em que 3.600 operários salitreiros chilenos foram assassinados como resposta dos “negociadores” diante da greve de uma das atividades mais importantes do país e na época já controlada por estrangeiros, principalmente ingleses.


A história é a seguinte:
Foi em dezembro de 1907, em Iquique, cidade portuária do Norte chileno, responsável naquele tempo pelo escoamento da produção de salitre das minas da região.

As empresas salitreiras, basicamente inglesas, manejavam todo o sistema, inclusive comercial. Os trabalhadores não recebiam dinheiro, apenas fichas, que só eram aceitas em lojas, chamadas de pulperías, pertencentes aos patrões, onde eram obrigados a comprar aquilo que necessitavam. Com o tempo, o poder de compra das fichas foi baixando, mas o valor do soldo se mantinha o mesmo.

Os operários decidiram então se organizar, pedir o fim do sistema das fichas e que o soldo subisse para 18 peniques (os pennies, “centavos” da libra esterlina), além de melhores condições de segurança no trabalho.

“Falamos de uma atividade de extração de salitre em pleno deserto do Atacama, com temperaturas de 30ºC durante o dia e -5ºC à noite. Falamos de condições de trabalho do princípio do século XX, quer dizer, mínimas condições de segurança e de higiene, moradias precárias. E um trato econômico muito deficiente”, explica o sociólogo e historiador Bernardo Guerrero, professor na Universidade Arturo Prat de Iquique.

Como os patrões viviam na Inglaterra, não havia quem os ouvisse. Decidiram então ir a Iquique, onde estavam a aristocracia salitreira, o porto, os bancos e a intendência do governo central de Santiago. Aliás, uma das partes mais emocionantes da cantata é no momento em que temos um trabalhador dizendo para sua mulher, que carrega o filho no colo, para que confie e vá com ele, pois serão ouvidos em Iquique.

O pânico tomou conta da aristocracia salitreira, e a administração local resolveu concentrar a massa em uma escola, chamada Domingo Santa María, vazia por ser período de férias. Organizou-se um comitê de greve e líderes como José Brigg e Luis Olea foram negociar com o intendente Carlos Eastman e os salitreiros.

Eastman disse então que iria a Santiago buscar a solução para os conflitos. Era 16 de dezembro. No dia 20, retornou em um navio de guerra, com um destacamento da Marinha e o general Roberto Silva Renard. Os grevistas os receberam no porto com grande festa e aclamações, esperando pela resposta que trariam. Mas naquela noite declara-se estado de sítio, suspendendo-se os direitos civis.

No dia 21 de dezembro, a escola amanhece cercada por canhões e metralhadoras. Os operários se negam a aceitar a exigência de voltarem ao trabalho e esperam por uma resposta das autoridades. Às 15h, o general Silva Renard ordena o bombardeio da escola e que os operários que sobrassem fossem mortos a golpes de baioneta. Não há como precisar o número exato de assassinados pois não houve registros e os mortos foram enterrados em valas comuns.

O texto integral da cantata você pode obter aqui. E (o mais importante) a própria cantata você pode fazer o download do www.4shared.com (faça a procura usando as palavras "quilapayun sta maria iquique").

EDITADO: A cantata foi removida do 4shared. Então, para download, pode-se usar este link.

Recomendo!

domingo, 26 de junho de 2011

Música eletrônica

Eu tenho duas grandes paixões musicais sobre as quais, sempre que possível, gosto de ler, entender mais e experimentar: a música erudita e a música eletrônica. Pode parecer meio estranho em um primeiro momento, mas não é. Gosto da beleza, da profundidade e da complexidade da música erudita. E gosto também do caráter experimental, vanguardista e por vezes até mesmo tribal da música eletrônica. Em minha vida, já tive algumas calorosas e irritantes discussões sobre meus gostos musicais supostamente incompatíveis. Hoje apenas acho divertido e constrangedor as limitações mentais de algumas pessoas.

Uma boa introdução sobre a música eletrônica pode ser obtida aqui:

http://en.wikipedia.org/wiki/Electronic_music

Um guia muito legal que eu encontrei na Web sobre música eletrônica é o Ishkur's Guide to Electronic Music. São info-gráficos feitos em flash, com amostras de cada um dos sub-gêneros, agrupados em suas grandes famílias de estilo (house, trance, techno, etc.). Este valoroso trabalho pode ser conferido no link abaixo:

http://techno.org/electronic-music-guide

Nestes gráficos é possível, inclusive, compreender melhor as conexões que existem entre os diferentes sub-gêneros, bem como a época na qual ele teve origem. Abaixo, uma tela capturada para dar uma idéia:



Eu particularmente gosto mais de Trance, principalmente o seu sub-genêro GoaTrance. Mas é como disse o Armin van Buuren: Não seja prisioneiro de seu próprio estilo!
Você pode conferir o trabalho deste DJ no YouTube (confira este trecho do show "Imagine", de 2008) ou também no site Digitally Imported, que é uma rádio via Web, na qual o DJ Armin tem um programa semanal.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Martha Argerich

No último domingo, dia 5, a famosa pianista Martha Argerich fez 70 anos.


Martha é uma pianista de origem argentina. A sua aversão pela imprensa e publicidade afastou-a das câmeras durante quase toda a sua carreira, tendo dado relativamente poucas entrevistas. Por causa disto, ela é menos conhecida do grande público que outros artistas de envergadura semelhante. No entanto, Martha é amplamente reconhecida como uma das maiores pianistas de seu tempo.

No vídeo abaixo, Martha novinha ainda, executando brilhantemente a Polonaise nº6, de Chopin:
http://www.youtube.com/watch?v=KCSEwfqs-VM

Ou ainda, no Festival Verbier de 2008, Martha executando a Partita n.2, de Bach:
http://www.youtube.com/watch?v=7mFDXNODNyc&feature=related


Martha Argerich nos oferece ainda uma das melhores interpretações do complicadíssimo (e maravilhoso) Concerto para Piano nº 3 de Rachmaninoff, considerada por muitos como a sua versão definitiva.

Quem assistiu o filme Shine sabe que o "Rach 3" pode fazer o pianista pirar...


Mais informações sobre esta genial pianista aqui.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Rossini e Laranja Mecânica

Ainda dentro desta temática de música erudita em filmes, lembrei-me de um caso célebre em minha vida. O filme em questão trata-se de A Clockwork Orange (ou "Laranja Mecânica" aqui no Brasil), de 1971, uma obra-prima de Stanley Kubrick. Detalhes sobre o enredo do filme podem ser conferidos aqui.


Na figura acima temos uma das muitas capas do filme e, como se pode notar, é dada uma ênfase a Beethoven. Inclusive, se não me engano, na época em que eu vi o filme (em VHS), era uma capa bem semelhante a esta. Isto, somado a minha considerável ignorância musical, fez com que eu passasse boa parte da adolescência pensando que todas as músicas do filme eram de Beethoven.

Bom, ao menos a 9ª Sinfonia de Beethoven eu já conhecia e realmente ela aparece várias vezes no filme. Inclusive, como o enredo nos conta, ela tem um papel muito interessante e dá um toque especial à história. Mas, por alguma razão, meu cérebro estava convencido de que as outras músicas interessantes do filme também eram de Beethoven. Fiquei perdido nesta busca infrutífera por vários meses (você sabe, naquela época não haviam as facilidades que hoje a Internet nos proporciona...).

Não me lembro como foi exatamente, mas juntando uma pista aqui, outra ali, fui descobrindo que o filme continha mais Rossini do que Beethoven. Pelo que me lembro, a única coisa que eu conhecia de Rossini na época era a abertura da ópera O barbeiro de Sevilha, que provavelmente TODO mundo conhece (quem nunca viu este clássico episódio do Pernalonga?).

 
Gioachino Antonio Rossini (1792-1868) foi uma espécie de "compositor pop" de sua época. Sua música leve, inventiva e alegre acessava facilmente todas as camadas da sociedade, proeza que se mantém até hoje. Nascido poucos meses após a morte de Mozart, Rossini foi o maior compositor de ópera entre as décadas de 1810 e 1830, quando então abandonou prematuramente a composição.

No filme Laranja Mecânica, a música que toca na famosa cena com a mulher dos gatos é a abertura da ópera La urraca ladrona. Dê uma conferida nos links abaixo:


Cena da mulher dos gatos (imperdível!!):
http://www.youtube.com/watch?v=wbRSag-L-GQ

Abertura da ópera La urraca ladrona, de Rossini:
http://www.youtube.com/watch?v=A8pN5jTyO4E&feature=related

Numa outra cena, onde o personagem Alex faz sexo com duas adolescentes em imagem acelerada, a música que temos é a abertura da ópera Guillherme Tell, de Rossini. Aliás, esta ópera foi a última dele, escrita em 1829.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Schubert além do jardim

Ontem finalmente assisti o filme Being There, de 1979, que aqui no Brasil recebeu o título de Muito além do jardim. Um amigo meu havia me recomendado este filme há uns 20 anos atrás e ontem finalmente tive a oportunidade. A vida, muitas vezes, é mesmo uma questão de tempo.


É um filme muito bonito, daqueles que você tem que saber assistir. Erroneamente classificado como comédia (como você pode ver neste link), é daqueles filmes que gera horas e horas de boa conversa, principalmente se você tiver boa companhia para tal. Na época, Peter Sellers ganhou o Oscar de melhor ator por esta interpretação. Após ver o filme, é fácil entender os motivos.

Logo no primeiro minuto de filme, o personagem Chance é despertado pela televisão, que ao ligar coincide com o início de uma música clássica. A julgar pela quantidade de perguntas na Internet, muitas pessoas queriam saber que música era aquela. E tomando como base a quantidade de respostas erradas, dá para se ter uma idéia que música erudita não é para as massas mesmo.


Trata-se da Sinfonia nº 8, D759, de Franz Schubert, a famosa sinfonia "Inacabada". Apesar do nome, não foi a última sinfonia composta por Schubert. Essa sinfonia, composta em 1822, não foi ouvida até o manuscrito ser redescoberto e apresentado em 1865. Só tem dois movimentos, embora existam esboços para um 3º movimento, o que desacretida as teorias de que Schubert considerava a obra terminada.

No YouTube temos várias interpretações. Encontrei uma razoavelmente boa (embora concorde que falte romantismo nesta interpretação) que você pode conferir nos links abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=t12EAoed3D0
http://www.youtube.com/watch?v=ED5QZEEG09g&NR=1

Muitas interpretações exageram no "moderato" do Allegro Moderato e executam o primeiro movimento excessivamente lento, na minha opinião. Mas também não precisamos exagerar, como fez Toscanini.
A parte central do primeiro movimento (desenvolvimento), onde podemos ouvir incríveis e dramáticos acordes em diminuta explorados com maestria, são magníficos exemplos de música romântica. Realmente imperdível. E uma dica: aproveite que seus vizinhos não estão em casa e ouça alto!


Franz Schubert viveu apenas 31 anos (1797-1828), tendo sido atacado pela sífilis em 1822. Boa parte do desespero que tomou conta de seu espírito, bem como toda a tensão emocional decorrente da doença e de sua situação financeira, aparecem na Sinfonia nº8.

Situar a obra de Schubert dentro do contexto clássico ou romântico sempre foi um dilema. Acredito que provavelmente devido à transição de uma época para outra. Sua vasta produção conta com obras sacras e corais, música orquestral, incluindo nove sinfonias, mais de 70 obras de câmara e peças para piano, entre elas 21 sonatas. Aliás, entre as peças para piano temos os maravilhosos Momentos Musicais (ouve só o n.3 nas mãos de Horowitz... mestre é mestre, simplesmente emocionante).

Mais informações sobre pode ser obtidas aqui.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Erno Rubik

Ok, este post não tem muito a ver com música (se bem que é uma combinação interessante, ouvir música enquanto se resolve algum quebra-cabeça...), mas eu queria publicar isto em algum lugar, para facilitar minha vida. Deixar as coisas anotadas em papel é uma merda.

O sujeito na foto abaixo é Erno Rubik.
Se você não chegou no planeta Terra ontem, certamente deve conhecer o Cubo de Rubik (ou "Cubo Mágico", como ficou conhecido aqui no Brasil). Este fantástico brinquedo, considerado um dos mais populares do mundo, foi criado pelo nosso amigo Erno em 1974 e já vendeu até hoje cerca de 900 milhões de unidades.

O problema é solucionar o negócio. Conheço gente que comprou o cubo e não brinca com ele. "Mas qual o motivo?", eu pergunto. "Ah, é que se eu desmanchá-lo, não saberei montá-lo depois!".

Bom, conta a lenda que o próprio Erno levou um mês para montar o cubo que recém havia criado... o que não deixa de ser engraçado.

Mais informações técnicas sobre este fabuloso quebra-cabeças no link abaixo:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cubo_de_Rubik

E aqui você pode baixar, em formato PDF, a solução pelo Método das Camadas, "testada e aprovada" por mim. Reuni as dicas essenciais, fórmulas e macetes obtidas em vídeos do YouTube.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Coletâneas: uma coisa triste

Eu pessoalmente não gosto daqueles CDs de música do tipo "collections". Sabe, aqueles CDs "As dez melhores", ou "As mais lindas canções", coisas deste tipo. Para começo de conversa, sempre que eu vejo um album destes eu me pergunto: "As mais lindas canções da opinião de quem?", ou "Quem é que elegeu estas faixas como sendo as dez melhores do século?" É claro que sempre pode haver alguma pesquisa obscura por trás destas coletâneas, ou um grupo de super-críticos-gênios musicais, mas o mais provável é o desejo das gravadores transformar em dinheiro um considerável conjunto de músicas "empoeiradas" e encalhadas.

As pessoas querem gastar seu rico dinheirinho em uma compra "que valha a pena", então, sempre há quem compre estas coletâneas, e ainda por cima saem contentes por estarem levando para casa "as melhores músicas de todos os tempos", ou coisas do tipo. Só que, na verdade, não é bem assim.

Vou lhes dar um exemplo ilustrativo do que estou falando. A EMI lançou o seguinte álbum triplo (não tem no Brasil ainda), chamado de "The very best of sad songs":



Como é um tipo de música que eu eventualmente ouço, fui dar uma ouvida. E me surpreendi com a quantidade de "músicas tapa-buraco" presentes ali. O truque é o seguinte: numa coletânea de 55 músicas, por exemplo, eles colocam umas 10 músicas realmente bonitas e coerentes. Estas são as mais caras (direitos caros), mas são as músicas que funcionarão como "chamariz" de público (serão as músicas que vão aparecer na propaganda da TV, por exemplo). O resto das músicas são para preencher espaço, ou seja, são aquelas que farão o sujeito "pular para a faixa seguinte" ao ouvir o CD.

Seguindo nosso "caso de estudo", só para mencionar três exemplos, o que diabos estas músicas estão fazendo em uma coletânea de "sad songs"?

Back to Black (Amy Winehouse)
Sad songs (Elton John)
Band Of Gold (Freda Payne)

Não que as músicas acima sejam ruins. Mas quem é que colocaria estas músicas em uma cuidadosa seleção de músicas para momentos tristes?
Abaixo temos a relação completa das músicas desta album triplo:


É claro que temos a presença de músicas que estão de acordo com o que seria o espírito desta coletânea, como pode ser conferido neste link. (Desculpem-me pessoal, é só uma degustação. Não posso publicar aqui a música completa).

Eu vejo apenas uma única vantagem nas coletâneas: elas podem ser úteis quando você desconhece totalmente um determinado estilo de música e/ou vai entrar pela primeira vez em contato com algum estilo. Por exemplo, um CD chamado de "O melhor da música Enka" pode dar a você uma boa noção do que é o estilo Enka, e você poderá posteriormente crescer com uma razoável solidez de opinião a partir desta impressão. Ainda assim, ouvir a coletânea deve ser um recurso usado com cautela.

Mas o resumo da coisa toda é o seguinte: faça você mesmo suas coletâneas. Não gaste dinheiro comprando a opinião de outras pessoas. Se vai gastar dinheiro comprando CDs e DVDs, compre os álbuns do seu artista preferido. Fazer sua própria coletânea é garantia de que 100% das músicas serão de seu agrado. Caso contrário, esqueça.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Music painting

Não costumo fazer posts com dicas de vídeo, mas achei este tão bonito que recomendo:

Peguei a dica no Mundo Gump.

sábado, 30 de abril de 2011

KV525 2nd Mov

Fiz uma experiência de gravação usando o teclado e o Audacity. A peça escolhida foi o segundo movimento da Serenata KV525 do Mozart. Mas não gravei o movimento inteiro.

A partitura utilizada pode ser baixada no IMSLP.

Fui adicionando cada uma das vozes, começando pelos violinos I, depois violinos II, cello e finalmente o baixo. Preferi desta forma porque a complexidade maior estava nas primeiras vozes. Sobre cada voz já gravada eu adicionava a próxima, utilizando o Audacity.



Para os violinos I e violinos II fiz um overdubbing bem leve, com mudanças no pan, em busca de um corpo maior no som, já que este som de strings é uma bosta, mas é o que temos no momento... :-)
Na trilha final apenas amplifiquei um pouco o sinal e reforcei algumas frequências centrais usando o equalizador do Audacity, mas nada excessivo.

O resultado pode ser conferido neste MP3.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

John Field

Pianista e compositor irlandês, John Field (1782-1837) é conhecido como o primeiro compositor de noturnos (estilo este posteriormente aperfeiçoado por F. Chopin).

Mais informações:
http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Field

No YouTube você encontra facilmente todos os noturnos para ouvir.
Neste link está disponível um MP3 do Noturno n.1, em Mi Bemol Maior.

Aqui você pode encontrar as partituras dos seus 18 noturnos:
http://imslp.org/wiki/18_Nocturnes_%28Field,_John%29