terça-feira, 30 de agosto de 2011

Santa Maria de Iquique

Este post eu dedico ao meu padrinho Ademar, que durante minha faculdade me apresentou a seguinte obra (em disco de vinil) sobre a qual falarei agora.

No cancioneiro do grupo chileno Quillapayún há um disco, de 1970, chamado Cantata Popular de Santa Maria de Iquique. Esta cantata conta a história do massacre da Escola Domingo Santa Maria, em 1907, em que 3.600 operários salitreiros chilenos foram assassinados como resposta dos “negociadores” diante da greve de uma das atividades mais importantes do país e na época já controlada por estrangeiros, principalmente ingleses.


A história é a seguinte:
Foi em dezembro de 1907, em Iquique, cidade portuária do Norte chileno, responsável naquele tempo pelo escoamento da produção de salitre das minas da região.

As empresas salitreiras, basicamente inglesas, manejavam todo o sistema, inclusive comercial. Os trabalhadores não recebiam dinheiro, apenas fichas, que só eram aceitas em lojas, chamadas de pulperías, pertencentes aos patrões, onde eram obrigados a comprar aquilo que necessitavam. Com o tempo, o poder de compra das fichas foi baixando, mas o valor do soldo se mantinha o mesmo.

Os operários decidiram então se organizar, pedir o fim do sistema das fichas e que o soldo subisse para 18 peniques (os pennies, “centavos” da libra esterlina), além de melhores condições de segurança no trabalho.

“Falamos de uma atividade de extração de salitre em pleno deserto do Atacama, com temperaturas de 30ºC durante o dia e -5ºC à noite. Falamos de condições de trabalho do princípio do século XX, quer dizer, mínimas condições de segurança e de higiene, moradias precárias. E um trato econômico muito deficiente”, explica o sociólogo e historiador Bernardo Guerrero, professor na Universidade Arturo Prat de Iquique.

Como os patrões viviam na Inglaterra, não havia quem os ouvisse. Decidiram então ir a Iquique, onde estavam a aristocracia salitreira, o porto, os bancos e a intendência do governo central de Santiago. Aliás, uma das partes mais emocionantes da cantata é no momento em que temos um trabalhador dizendo para sua mulher, que carrega o filho no colo, para que confie e vá com ele, pois serão ouvidos em Iquique.

O pânico tomou conta da aristocracia salitreira, e a administração local resolveu concentrar a massa em uma escola, chamada Domingo Santa María, vazia por ser período de férias. Organizou-se um comitê de greve e líderes como José Brigg e Luis Olea foram negociar com o intendente Carlos Eastman e os salitreiros.

Eastman disse então que iria a Santiago buscar a solução para os conflitos. Era 16 de dezembro. No dia 20, retornou em um navio de guerra, com um destacamento da Marinha e o general Roberto Silva Renard. Os grevistas os receberam no porto com grande festa e aclamações, esperando pela resposta que trariam. Mas naquela noite declara-se estado de sítio, suspendendo-se os direitos civis.

No dia 21 de dezembro, a escola amanhece cercada por canhões e metralhadoras. Os operários se negam a aceitar a exigência de voltarem ao trabalho e esperam por uma resposta das autoridades. Às 15h, o general Silva Renard ordena o bombardeio da escola e que os operários que sobrassem fossem mortos a golpes de baioneta. Não há como precisar o número exato de assassinados pois não houve registros e os mortos foram enterrados em valas comuns.

O texto integral da cantata você pode obter aqui. E (o mais importante) a própria cantata você pode fazer o download do www.4shared.com (faça a procura usando as palavras "quilapayun sta maria iquique").

EDITADO: A cantata foi removida do 4shared. Então, para download, pode-se usar este link.

Recomendo!

Nenhum comentário: