quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Tema de Vilma

Estes dias, navegando pelo YouTube a procura de algumas músicas para flauta, acabei sem querer me deparando com esta peça aqui:


Tocada em flauta pan, no título estava escrito "Tema de Vilma".
"Espere um pouco, Tema de Vilma? Mas esta não é a Dolannes Melody?" Sim, de fato é. Mas olha só que interessante:

A música original foi composta por Paul de Senneville e Olivier Toussaint, em 1975. Na foto abaixo, o de óculos é o Paul.


Paul de Senneville começou a vida como jornalista, mas em 1962 começou a envolver-se com música e não parou mais. Em 1975, compôs Dolannes Melody, que rapidamente tornou-se um enorme sucesso, executado pelo trompetista Jean-Claude Borelly. Aliás, nem todo mundo sabe, mas Dolannes Melody foi inicialmente escrita para tompete. Dá uma conferida abaixo:


Mas, quem é Vilma? Esta música ficou conhecida como "Tema de Vilma" graças a novela Pecado Capital, de 1975, onde esta música era o tema da personagem Vilma. No vídeo abaixo temos uma cena da novela (a Internet nos proporciona raridades mesmo):



No vídeo acima temos uma cena de um dos primeiros capitulos da novela Pecado Capital (1975/76), de Janete Clair, dirigida por Daniel Filho. Primeira novela colorida do horario das 20 horas.

Vilma (Debora Duarte), filha de Salviano Lisboa (Lima Duarte), visita pela primeira vez o psiquiatra Dr. Percival (Milton Gonçalves). Vilma era uma jovem com problemas emocionais, que vai se apaixonar por Nelio (Denis Carvalho).

Com a censura de Roque Santeiro (Dias Gomes) na noite da estreia, Janete Clair teve que escrever as pressas uma novela para substitui-la. Escreveu um dos seus grandes sucessos da televisao, Pecado Capital, em tempo recorde, e incluindo quase todos os atores ja escalados em Roque Santeiro. Debora Duarte vivia a Lulu, casada com Ze das Medalhas, e Milton Gonçalves, vivia o padre Honorio. 


Milton Gonçalves pediu a Janete Clair que lhe criasse um personagem profissional, que fosse diferente dos papeis normalmente vivido por atores negros, que interpretavam em geral gente probre e sem educaçao, ou escravos e domesticos. O seu personagem Dr. Percival foi um marco na historia da televisao, por quebrar esteriotipos. E Debora Duarte pode mostrar todo o talento que tem com a sua Vilma, um dos personagens mais marcantes de sua carreira.


Para finalizar, é importante mencionar outro detalhe. Se você pesquisar por esta música no YouTube, você provavelmente vai encontrar muitas ocorrências relacionadas ao pianista Richard Clayderman (sim, aquele loiro do piano branco). Isto tem um motivo: a carreira de Clayderman e os compositores Paul de Senneville e Olivier Toussaint sempre foram coisas muito próximas. Tanto é que a música "Ballade pour Adeline" (composta pelo papai Senneville para a filha Adeline) teve sua gravação especificamente solicitada ao Clayderman, que na época teve sua carreira de pianista catapultada às alturas com isto.

Esta balada água-com-açúcar já está mais do que massacrada, mas se bateu a saudade curiosidade, eis o vídeo logo abaixo:


terça-feira, 30 de agosto de 2011

Santa Maria de Iquique

Este post eu dedico ao meu padrinho Ademar, que durante minha faculdade me apresentou a seguinte obra (em disco de vinil) sobre a qual falarei agora.

No cancioneiro do grupo chileno Quillapayún há um disco, de 1970, chamado Cantata Popular de Santa Maria de Iquique. Esta cantata conta a história do massacre da Escola Domingo Santa Maria, em 1907, em que 3.600 operários salitreiros chilenos foram assassinados como resposta dos “negociadores” diante da greve de uma das atividades mais importantes do país e na época já controlada por estrangeiros, principalmente ingleses.


A história é a seguinte:
Foi em dezembro de 1907, em Iquique, cidade portuária do Norte chileno, responsável naquele tempo pelo escoamento da produção de salitre das minas da região.

As empresas salitreiras, basicamente inglesas, manejavam todo o sistema, inclusive comercial. Os trabalhadores não recebiam dinheiro, apenas fichas, que só eram aceitas em lojas, chamadas de pulperías, pertencentes aos patrões, onde eram obrigados a comprar aquilo que necessitavam. Com o tempo, o poder de compra das fichas foi baixando, mas o valor do soldo se mantinha o mesmo.

Os operários decidiram então se organizar, pedir o fim do sistema das fichas e que o soldo subisse para 18 peniques (os pennies, “centavos” da libra esterlina), além de melhores condições de segurança no trabalho.

“Falamos de uma atividade de extração de salitre em pleno deserto do Atacama, com temperaturas de 30ºC durante o dia e -5ºC à noite. Falamos de condições de trabalho do princípio do século XX, quer dizer, mínimas condições de segurança e de higiene, moradias precárias. E um trato econômico muito deficiente”, explica o sociólogo e historiador Bernardo Guerrero, professor na Universidade Arturo Prat de Iquique.

Como os patrões viviam na Inglaterra, não havia quem os ouvisse. Decidiram então ir a Iquique, onde estavam a aristocracia salitreira, o porto, os bancos e a intendência do governo central de Santiago. Aliás, uma das partes mais emocionantes da cantata é no momento em que temos um trabalhador dizendo para sua mulher, que carrega o filho no colo, para que confie e vá com ele, pois serão ouvidos em Iquique.

O pânico tomou conta da aristocracia salitreira, e a administração local resolveu concentrar a massa em uma escola, chamada Domingo Santa María, vazia por ser período de férias. Organizou-se um comitê de greve e líderes como José Brigg e Luis Olea foram negociar com o intendente Carlos Eastman e os salitreiros.

Eastman disse então que iria a Santiago buscar a solução para os conflitos. Era 16 de dezembro. No dia 20, retornou em um navio de guerra, com um destacamento da Marinha e o general Roberto Silva Renard. Os grevistas os receberam no porto com grande festa e aclamações, esperando pela resposta que trariam. Mas naquela noite declara-se estado de sítio, suspendendo-se os direitos civis.

No dia 21 de dezembro, a escola amanhece cercada por canhões e metralhadoras. Os operários se negam a aceitar a exigência de voltarem ao trabalho e esperam por uma resposta das autoridades. Às 15h, o general Silva Renard ordena o bombardeio da escola e que os operários que sobrassem fossem mortos a golpes de baioneta. Não há como precisar o número exato de assassinados pois não houve registros e os mortos foram enterrados em valas comuns.

O texto integral da cantata você pode obter aqui. E (o mais importante) a própria cantata você pode fazer o download do www.4shared.com (faça a procura usando as palavras "quilapayun sta maria iquique").

EDITADO: A cantata foi removida do 4shared. Então, para download, pode-se usar este link.

Recomendo!