segunda-feira, 6 de junho de 2011

Schubert além do jardim

Ontem finalmente assisti o filme Being There, de 1979, que aqui no Brasil recebeu o título de Muito além do jardim. Um amigo meu havia me recomendado este filme há uns 20 anos atrás e ontem finalmente tive a oportunidade. A vida, muitas vezes, é mesmo uma questão de tempo.


É um filme muito bonito, daqueles que você tem que saber assistir. Erroneamente classificado como comédia (como você pode ver neste link), é daqueles filmes que gera horas e horas de boa conversa, principalmente se você tiver boa companhia para tal. Na época, Peter Sellers ganhou o Oscar de melhor ator por esta interpretação. Após ver o filme, é fácil entender os motivos.

Logo no primeiro minuto de filme, o personagem Chance é despertado pela televisão, que ao ligar coincide com o início de uma música clássica. A julgar pela quantidade de perguntas na Internet, muitas pessoas queriam saber que música era aquela. E tomando como base a quantidade de respostas erradas, dá para se ter uma idéia que música erudita não é para as massas mesmo.


Trata-se da Sinfonia nº 8, D759, de Franz Schubert, a famosa sinfonia "Inacabada". Apesar do nome, não foi a última sinfonia composta por Schubert. Essa sinfonia, composta em 1822, não foi ouvida até o manuscrito ser redescoberto e apresentado em 1865. Só tem dois movimentos, embora existam esboços para um 3º movimento, o que desacretida as teorias de que Schubert considerava a obra terminada.

No YouTube temos várias interpretações. Encontrei uma razoavelmente boa (embora concorde que falte romantismo nesta interpretação) que você pode conferir nos links abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=t12EAoed3D0
http://www.youtube.com/watch?v=ED5QZEEG09g&NR=1

Muitas interpretações exageram no "moderato" do Allegro Moderato e executam o primeiro movimento excessivamente lento, na minha opinião. Mas também não precisamos exagerar, como fez Toscanini.
A parte central do primeiro movimento (desenvolvimento), onde podemos ouvir incríveis e dramáticos acordes em diminuta explorados com maestria, são magníficos exemplos de música romântica. Realmente imperdível. E uma dica: aproveite que seus vizinhos não estão em casa e ouça alto!


Franz Schubert viveu apenas 31 anos (1797-1828), tendo sido atacado pela sífilis em 1822. Boa parte do desespero que tomou conta de seu espírito, bem como toda a tensão emocional decorrente da doença e de sua situação financeira, aparecem na Sinfonia nº8.

Situar a obra de Schubert dentro do contexto clássico ou romântico sempre foi um dilema. Acredito que provavelmente devido à transição de uma época para outra. Sua vasta produção conta com obras sacras e corais, música orquestral, incluindo nove sinfonias, mais de 70 obras de câmara e peças para piano, entre elas 21 sonatas. Aliás, entre as peças para piano temos os maravilhosos Momentos Musicais (ouve só o n.3 nas mãos de Horowitz... mestre é mestre, simplesmente emocionante).

Mais informações sobre pode ser obtidas aqui.

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